Salve Glorioses. Vocês sabem o que é feminismo comunitário? Essa rede de pensamento, difundida pela escritora e poeta indígena Julieta Paredes Carvajal, ganhou força há quinze anos, mas tem raízes ancestrais em toda a América Latina.
Diferente do feminismo europeu, que trouxe importantes ganhos políticos, que ressoou em todo o mundo e que tem suas origens no iluminismo, o feminismo comunitário é feito por mulheres latinas que defendem a terra e o direito de seus povos desde a colonização.
Em lugar de priorizar os ganhos individuais, a mola propulsora das mulheres indígenas e latinas é a saúde da Mãe Terra e suas comunidades, e é onde se cultivam os laços, a comida, o tempo e a memória.
Julieta é do 10, na Bolívia, e fala ao mundo todo, através de seus livros e palestras, a respeito dos saberes e das lutas das mulheres indígenas. Ela é enfática, não só renomeando o feminismo como “Q’amasa Warminanaka”, que no idioma Aymara significa “a força das mulheres”, pois considera que o feminismo comunitário busca reunir as mulheres latinas em torno de sua própria história, resgatando memórias e trazendo na bagagem a sabedoria das anciãs, fortalecendo, assim, o que é ser mulher aqui, do outro lado do oceano.
Quando Julieta diz que “não somos filhas do Iluminismo”, é porque, muito antes disso, as mulheres indígenas já lutavam por sua sobrevivência, bem como a de sua comunidade. Ela ainda pontua o conceito de Viver Bem: Viver envolve a água, o pão. Primeiro é necessário cuidar da vida. E depois, construir o Bem, não somente com seres-humanos, mas também com a mãe Terra e a irmã natureza; sabendo que não se pode viver bem se, na sua comunidade, um vizinho, um irmão ou pessoas na rua estão passando fome.
Valorizar o poder da mulher, que em tudo está ligado à sobrevivência e ao cuidar do outro, é fundamental para o futuro. E isso é o feminismo comunitário. Não diz respeito somente às mulheres ou às suas conquistas individuais. Pelo contrário: fala sobre cuidar de toda a comunidade, seja esta onde for: cidade, aldeia, escola, empresa. Até porque, as conquistas que vieram Europa ainda não alcançaram todas as mulheres, em toda a Abya Yala (“América”, na língua Kuna) .
No entanto, o fundamental é compreender que não se trata de oposição ou disputa. Pelo contrário: é soma!
Em seu último livro, “Para descolonizar o feminismo”, que chegou ao Brasil em 2020, Julieta fala sobre a luta das mulheres desde os Incas nos Andes e os Astecas no México e nos presenteia com este belo poema:
Quando uma mulher ama
A Terra faz
Além de rotações e translações
Revoluções
(Julieta Paredes)
O chamado de Julieta e do Feminismo Comunitário é também um convite para que nós, pessoas latinas, abraçemos a nossa própria ancestralidade e cultura.
Um beijo e até a próxima Quarta Gloriosa.