Terça, 22 de Outubro de 2024

Escola de Buritirana usa criatividade para incluir aluno autista não verbal nas atividades da sala

Ele é uma criança ativa e tem sua maneira peculiar de se comunicar, que foi sendo entendida pela equipe

Foto: Divulgação
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Texto: Redação Semed

03 novembro, 2023 às 12:07

Quando os pais do pequeno Davi, de três anos, o matricularam no Pré I da Escola Municipal Luiz Nunes de Oliveira, em Buritirana, apresentaram também um grande desafio para toda a equipe gestora e pedagógica. Diagnosticado com transtorno global do espectro autista - não verbal, nível 3, Davi é o primeiro deste caso na escola, e fez com que professores e cuidadores tivessem que aprender a melhor forma de trabalhar com ele.

Ele é uma criança ativa e tem sua maneira peculiar de se comunicar, que foi sendo entendida pela equipe. Gosta de andar e correr pela área da escola, mas tem dificuldade em se manter dentro da sala de aula e participar das atividades. Após quase um ano experimentando, foi graças à hora da soneca que a equipe encontrou a chave para a permanência dele em sala. Prevista no currículo da Educação Infantil, a hora do sono é o momento em que todos os pequenos alunos dormem, mas Davi não se adaptou e rejeitou a caminha, o que motivou a equipe a experimentar uma rede. Aos poucos, com muita conversa e carinho, ele aceitou dormir na rede, ainda nos espaços fora de sala.

Mas o desafio de mantê-lo parado em seu lugar continuava, quando veio a ideia de colocar a rede dentro da sala de aula. Davi a princípio novamente relutou, e queria continuar andando acompanhado pelo monitor. Graças a muito incentivo, ele aceitou a rede e hoje vai direto para a sala ao chegar na escola. “A rede foi um meio para que a escola conseguisse entrar no universo dele, e trazê-lo para a sala. Foram muitas tentativas até encontrar esta forma que o fez assumir seu lugar para que o processo de aprendizagem acontecesse. É possível perceber que ele assimila, de seu modo particular, as orientações que recebe com muita atenção”, observa Ademir Bandeira, diretor da unidade. “A socialização com as demais crianças aconteceu naturalmente, e todos já entenderam que aquele espaço é dele, e as atividades fluem”. 

A professora Joilda Mascarenhas é uma das responsáveis diretas pela evolução de Davi. Ela relata que a chegada de um aluno com laudo de Transtorno do Espectro Autista (TEA) pontuando suas características gerou expectativas e ao mesmo tempo curiosidade de como seria a nova rotina. Após duas tentativas, a terceira cuidadora se adaptou às peculiaridades do aluno, e ele também a ela. A partir daí, tudo transcorreu de forma tranquila. “Com muito carinho, cuidado e zelo pelo Davi e suas necessidades, tudo foi se ajeitando. Hoje percebemos o quanto ele desenvolveu e está bem à vontade no ambiente escolar”, relata.

Edilane Ribeiro é a atual cuidadora de Davi. Ela conta que o período de adaptação foi marcado pela experimentação de diversos recursos, entre eles o uso da rede para que ele descansasse como os coleguinhas. No início essa rede era posta fora da sala, próxima às árvores ao ar livre. Com o tempo e o calor ter ficado forte, a alternativa encontrada foi colocá-la dentro da sala de aula. “Havia dúvidas se daria certo, mas aos poucos o Davi se adaptou à rotina da sala de aula e hoje ama sua rede. Tem dia que ele dorme junto com os coleguinhas na hora da soneca”, comemora.

“Davi já come sozinho, pega sua garrafa de água e bebe sozinho, fica bem e super tranquilo na sala de aula, pega seus brinquedos preferidos, deita na rede e balança usando seu próprio corpo para tanto. Vimos um desenvolvimento imenso nestes últimos meses. Ele nos olha nos olhos, sorri, pega pela mão para mostrar algo que ele queira. Raramente grita. Nós o vemos como uma criança feliz na sua realidade escolar”, finaliza a professora Joilda.

Wanicleia Noleto, mãe de Davi, reconhece a grande evolução ocorrida neste período. "Hoje posso andar com ele tranquilamente, o que antes não acontecia. Ele gritava muito, pulava muito. Agora eu já tenho mais controle, ele está mais tranquilo, consegue parar para se alimentar direito para só então sair novamente. Atende a chamados, olha para mim para nos comunicarmos. Apesar de ele ser uma criança que ainda não fala, eu sinto que hoje ele já me compreende", afirma.

A psicóloga Karina Correia considera que os esforços da escola e da família representam a escuta dessa criança, que não fala, mas consegue se expressar. "Família e escola sentem a criança como sua responsabilidade, e essa rede é o resultado da busca pelo acolhimento dessa criança no ambiente escolar, que hoje se mostra tão seu. É uma experiência terapêutica que pode ser replicada," finaliza.
 

 


Edição: Denis Rocha/Secom