Quarta, 19 de Novembro de 2025

Na COP30 em Belém, EcoTerra mostra aforça do Tocantins na defesa da natureza

Entidade compôs delegação do Estado que contou com indígenas, artesãos, agricultores familiares e ativistas ambientais

Foto: Divulgação
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Daniel Machado

19 novembro, 2025 às 16:18

Associação com mais de 30 anos de atuação socioambiental no Tocantins, a EcoTerra marcou presença de forma decisiva na COP30, realizada em Belém (PA). Integrante histórica do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), a organização compôs uma caravana que partiu de Palmas rumo ao maior encontro climático do planeta.

A coordenação do translado ficou sob responsabilidade do coordenador regional da EcoTerra e do GTA no Tocantins, garantindo a participação ativa de representantes de diversos segmentos sociais do Estado. A comitiva tocantinense, formada por lideranças do Povo Xerente, pescadores, artesãos, agricultores familiares, representantes de religiões de matriz africana, movimentos de moradia e atingidos por barragens, integrou a Cúpula dos Povos, a Zona Verde e os espaços autogestionados pela sociedade civil.

Em um evento que reuniu mais de 70 mil participantes, Fernando Amazônia Gomes, líder da entidade, destacou o lema “A Natureza Não é Mercadoria”, ecoando a principal bandeira da sociedade civil organizada nas marchas e debates públicos. O grupo participou da Marcha da Saúde e Clima e da Grande Marcha, reforçando a defesa da justiça climática e dos direitos socioambientais.

Durante a COP30, a EcoTerra apresentou a exposição fotográfica “Água é Vida”, com imagens de Fernando Amazônia, na Embaixada dos Povos, como parte do III Seminário Água é Vida. A mostra enfatizou as comunidades originárias como guardiãs da água e trouxe denúncias sobre a crise hídrica na região — incluindo o quase esgotamento do Rio Javaé —, além da necessidade de reconhecimento legal dos recursos naturais como sujeitos de direitos, pauta que abrange também a proteção do Ribeirão Taquaruçu, em Palmas.

“A gente não pode mais continuar ultrapassando essa linha vermelha, porque as consequências são geralmente para as comunidades vulneráveis. Se esse olhar respeitoso para a natureza não passar a existir, não passar a funcionar, a Terra vai sofrer com isso. A temperatura vai aumentar, todos os seres vivos que vêm à Terra vão ser prejudicados por uma ação humana que não tem o respeito e consideração para esse lugar. Precisamos cuidar da água, precisamos cuidar desse bem tão precioso, desse bem que gera vida. Gera vida quando a gente está na gestação, gera vida para as plantas, gera vida para os animais, para todos os seres. Precisamos urgentemente ter um posicionamento mais forte, mais direcionado, mais focado, com mais propósito para que a gente possa vencer ou minimizar os impactos do capital presente num modelo de produção perverso que vem cada vez mais consumindo e destruindo as nossas riquezas naturais”, salientou Fernando Amazônia, durante uma marcha na COP30.

No evento, a EcoTerra alertou que os impactos climáticos no Tocantins — secas severas, queimadas recorrentes e conflitos territoriais — atingem especialmente os grupos mais vulneráveis. Mesmo diante das contradições da Zona Verde, marcada pela forte presença de grandes corporações interessadas na privatização da água, a EcoTerra e os movimentos parceiros mantiveram firme sua atuação em defesa da justiça climática.

Membros voluntários

A participação da comitiva só foi possível graças a esforços coletivos, incluindo o apoio voluntário de membros como Maria e Maria da Glória, que auxiliaram na logística e no cuidado com crianças durante as atividades.

A presença do Povo Xerente fortaleceu a representatividade cultural e política do Tocantins, trazendo ao debate a sabedoria ancestral que orienta a relação sustentável com a terra.

A caravana retornou ao estado com a sensação de missão cumprida, após acompanhar a apresentação da Carta dos Povos e da Carta das Crianças, documentos simbólicos que sintetizam as reivindicações da sociedade civil global. A EcoTerra reafirmou seu compromisso com a defesa da Mãe Terra e com a continuidade da luta por justiça climática no estado. Entre desafios e resistências, celebrou a participação coletiva na COP30 como um marco histórico para o Tocantins, reforçando que a defesa da natureza e dos direitos das comunidades tradicionais permanece viva e ininterrupta.

Com a filha de 8 anos

Membra da EcoTerra e professora, Ana Karoline de Araújo foi à COP30 com a sua filha de 8 anos e ressaltou a gama de eventos da conferência, com a oportunidade de aprendizado e debates importantes.

“Pudemos participar de vários eventos, tanto nos espaços oficiais da COP, que foi a Green Zone, a Zona Verde, quanto também na Cúpula dos Povos, que é um espaço alternativo da COP, que é onde participa a sociedade civil organizada, os movimentos sociais. Lá na COP30 nós pudemos participar de vários eventos. Eu fui acompanhada da minha filha de 8 anos. Foi a nossa primeira COP, então a gente teve essa oportunidade de participar de vários eventos importantes. Na barqueata, que foi a abertura da Cúpula dos Povos, onde centenas de pessoas do Brasil e do mundo e povos indígenas fizeram uma barqueata no Rio Guamá, lá de Belém, a gente pôde navegar nas águas do rio, cada um com suas bandeiras, com seus protestos. Tivemos também outros momentos importantes, participamos de duas marchas, uma delas a Marcha Global, com cerca de 70 mil pessoas participando, de todo mundo, e lutando, pedindo por justiça climática, pedindo por melhorias para o meio ambiente”, salientou, ao destacar o encerramento da Cúpula dos Povos, com a leitura da Carta dos Povos e também da Carta das Infâncias, momento que pôde ser presenciado por sua filha e ficará gravado na memória para sempre.

*O que é EcoTerra?*

A EcoTerra foi criada em 24 de setembro de 1995 por um grupo de profissionais liberais e pesquisadores inicialmente ligados ao curso de Engenharia Ambiental da UNITINS/UFT. Possui atuação ampla nas questões socioambientais. A organização nasceu com o propósito de defender a maior ilha fluvial do mundo — a Ilha do Bananal (TO) — e os povos nativos Karajá, Javaé e Avacanoeiro, consolidando, ao longo dos anos, trabalhos voltados à proteção da floresta e das comunidades tradicionais, conhecidas como “povos das flores”.