Nem a baixa
aposentadoria, nem o alto custo dos planos de saúde ou mesmo a solidão
preocupam mais o brasileiro com 50 anos ou mais do que a própria estética.
Pesquisa divulgada ontem em São Paulo revela que 25% dos brasileiros nessa
faixa etária temem mais as mudanças no corpo e a sensação de se sentirem feios
do que a pobreza ou a doença. A segunda principal preocupação do brasileiro com
50 anos ou mais é a falta de dinheiro (20%), seguida pela solidão (18%),
sentir-se inútil (14%), ser um peso para outras pessoas (11%), não ter alguém
para cuidar deles (10%) e as doenças (2%), informou o Instituto Locomotiva em
evento da Bradesco Seguros.
"Não é só
vaidade", explica o autor do estudo e presidente do instituto, Renato
Meirelles. "É como se essa preocupação fosse a materialização do
preconceito que existe em relação ao envelhecimento." A pesquisa também
informa que 74% dos entrevistados já presenciaram algum preconceito contra uma
pessoa madura. "A dificuldade em lidar com as mudanças físicas escancara
os efeitos desse preconceito", diz o pesquisador. Por outro lado, a maior
preocupação entre aqueles com menos de 50 anos é "com os outros", com
52% das respostas. "Quem tem mais problema de auto-estima são os jovens, e
não os mais velhos." Essa autoconfiança também se reflete em como esse
público se sente, independente do que mostra o calendário: apenas 10% se
consideram velhos 81% não se acham nem jovens nem velhos, 8% se definem jovens
e 1% muito jovens. Quando questionados sobre como preferem que se refiram à sua
faixa etária, 32% desses brasileiros sugerem a palavra "madura"; 25%
escolhem "terceira idade"; e 3%, "velhas”.
A auto-estima
dessas pessoas é melhor do que a de jovens para a maioria dos assuntos, mas há
um estigma sobre a palavra 'velha', [que é] associada a algo ruim. Assumir que
são velhos em uma sociedade preconceituosa significa assumir essa “relata
Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.
Invisíveis
para a publicidade
Embora recebam baixos salários, os aposentados
brasileiros representam 42% da renda nacional: movimentam R$ 1,8 trilhão por
ano, mais do que o consumo de toda a classe C, segundo dados do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística). "Se os brasileiros com mais de 50
formassem um país, ele seria o 18º mais rico do mundo. Estaria no G20 do
consumo mundial", diz Meirelles.
Mesmo assim,
esse público não se enxerga nas campanhas publicitárias: 77% dos brasileiros
maduros acham que as pessoas nas propagandas são muito diferentes delas.
"Setenta e sete por cento do maior mercado consumidor do Brasil se sente
rejeitado pela publicidade”.
Quem vive no
Brasil com 50 anos ou mais também tem seus arrependimentos. Em uma das questões
de múltipla escolha, 83% dos entrevistados disseram que, se pudessem voltar no
tempo, teriam "cuidado melhor da saúde", empatado com "guardado
mais dinheiro" (83%) e seguido por "se alimentado de forma mais
saudável" (81%), "estudado mais" (81%) e "feito mais
exercícios físicos" (80%).
Milhões de
"maduros" sem poupança Hoje, 25% da população tem 50 anos ou mais.
São 54 milhões de brasileiros, mais do que duas Austrálias, com 22,4 milhões
habitantes, e do que toda a população da Espanha (47,7 milhões). Até 2050, 43%
da população brasileira terá mais de 50 anos, ou 98 milhões de pessoas.
Hoje, 65% dos
brasileiros nessa faixa de idade não guardam dinheiro para a velhice. Ao todo,
35% desse público faz poupança, e 23% deles têm o equivalente a três ou mais
meses de renda. "Eles trabalharam a vida inteira e trabalham ainda hoje,
mas têm renda limitada, não conseguem poupar", avalia o pesquisador.
O problema,
diz, é que os jovens sempre acham que terão dinheiro suficiente quando a
velhice chegar. Embora 77% dos jovens acreditem que aos 50 terão condições
financeiras favoráveis, 69% de quem, hoje, tem 50 anos ou mais consideram sua
condição financeira "menos confortável do que imaginava na juventude”.