Essa mudança de perspectiva visa que o Ministério Público do Tocantins (MPTO) atue preventivamente. Essa é a premissa que guia os trabalhos da 26ª Promotoria de Justiça da Capital, especializada no combate à violência doméstica.
Com foco na resolução prévia de conflitos, o MPTO busca a ampliação da oferta de serviços que ensinam técnicas de comunicação e gestão de emoções, visando impedir que pequenos atritos familiares escalem para tragédias ou judicialização.
Segundo o promotor de Justiça, embora a repressão seja necessária em casos graves, a prevenção é o caminho mais eficaz para a harmonia social. “A atuação da violência doméstica é muito conhecida apenas no aspecto repressivo. Mas ela tem a maior importância, no entender da Promotoria hoje, no aspecto preventivo”, defende.
A estratégia se baseia na ideia de que o processo judicial é, muitas vezes, o atestado de falência do diálogo. “O processo em si é uma tragédia, porque você só chega ao processo quando não conseguiu resolver antes”, pontua Konrad. Para evitar esse cenário, a promotoria desenvolve o projeto “Dias Melhores”, que utiliza ferramentas como os Círculos de Construção de Paz e os Grupos Reflexivos.
Ação em Buritirana e a Rede de Proteção
Essa filosofia de atuação próxima da comunidade foi levada a campo neste sábado, 13, durante a ação “Cidadania Rural: Juntos é Mais Fácil”, realizada no distrito de Buritirana. O Ministério Público do Tocantins esteve presente na Escola Municipal de Tempo Integral Professora Sueli Pereira de Almeida Reche, oferecendo atendimento direto à população da zona rural.
Somando forças à assessoria jurídica prestada pela 26ª Promotoria de Justiça, o Núcleo de Gênero (Nugen) do MPTO também participou ativamente, com orientações fundamentais sobre o combate à violência doméstica, explicando como as vítimas podem buscar apoio imediato e como funciona a rede de amparo.
Dessa forma, a instituição atua em duas frentes complementares: investindo no diálogo para evitar novos casos e mantendo a rede de proteção acessível para situações de urgência.
Repercussão
A mensagem de que é preciso agir antes do conflito se agravar encontrou eco entre as lideranças da região. O subprefeito de Taquaruçu e Buritirana, João Alves, avaliou a presença do Ministério Público como essencial para o aprendizado coletivo. Ele destacou que debater a “origem da violência” e os mecanismos para contê-la é a melhor forma de evitar que as famílias precisem recorrer à justiça no futuro.
“A origem da violência precisa ser debatida e combatida para que não gere um conflito ali e evolua”, afirmou o subprefeito. João Alves ainda sugeriu à equipe técnica que esse modelo de palestras preventivas seja expandido para alcançar cada vez mais pessoas que ainda não estão envolvidas em processos judiciais, reforçando o caráter educativo da ação.
Quem também aprovou a iniciativa foi o presidente da Associação São Silvestre, José Pereira, entidade que representa cerca de 95 famílias da região. Para o líder comunitário, a palestra foi uma “experiência de vida” que esclareceu como muitos problemas surgem simplesmente pela falta de informação e de conversa dentro de casa.
José Pereira assimilou o recado principal do evento: em vez de reagir com frieza ou agressividade, a solução está na humildade de conversar. “É o diálogo. Você procurar a mulher: ‘o que você quer que eu faça para melhorar?’”, exemplificou, ressaltando que levou para casa o aprendizado de que a compreensão mútua é o melhor caminho.
A comunicação como chave
Durante sua explanação, o promotor Konrad Wimmer reforçou o ponto entendido pelos moradores: a paz não é perturbada apenas por grandes eventos, mas pelo acúmulo de pequenos problemas não resolvidos e ruídos de comunicação.
“Muitas vezes, a gente tem uma dificuldade gigante com um companheiro ou companheira exatamente por uma dificuldade de conversar”, explicou o promotor.
Ele enfatizou que interpretar equivocadamente as intenções do parceiro é um gatilho frequente de violência. “O que nos turba são os pequenos problemas. A paz não se turba; se você está em paz, você está em paz”, completou, deixando a mensagem de que o diálogo — validado pela comunidade local — é o primeiro passo para a construção de um lar seguro.
O perigo do álcool
Além das falhas de comunicação que geram confrontos, o Promotor fez um alerta sobre o papel do álcool como elemento causador de violência, ressaltando que a bebida está associada a um grande percentual dos casos de violência doméstica. De forma contundente, alertou que nem todos possuem a capacidade de beber com responsabilidade.
Segundo ele, o uso abusivo do álcool é agravado pelo fato de o autor da violência não reconhecer sua condição de dependência. Ao elogiar o trabalho realizado pelos Alcoólicos Anônimos (AA), o promotor de Justiça sugeriu que as pessoas deem o primeiro passo, que é buscar o diagnóstico do vício, para em seguida buscar a ajuda necessária e evitar tragédias.


