Por Glória Pires, atriz e empreendedora
Alessandra Munduruku, 35 anos, é uma líder indígena da aldeia Praia do Índio, e hoje cursa Direito na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). Sua maior inspiração é o mito de Wakoburun, a primeira guerreira munduruku, que teve seu irmão morto em batalha. Para resgatar a cabeça de seu irmão, ela invadiu a aldeia inimiga e matou os guerreiros que a detinham.
Assim como a lendária guerreira, Alessandra é uma das mulheres em destaque na luta indígena. Ela é uma das 14 mil pessoas da etnia munduruku que vivem às margens do rio Tapajós, local que está no epicentro de grandes empreendimentos do setor exportador. Estradas e hidrelétricas ameaçam a permanência de seu povo, da sua cultura e contaminam a flora e as águas. “Entrei na faculdade para entender a lei que os brancos criam”, “Que desenvolvimento é esse que nos deixa sem terra, sem água, sem vida?”
Assim, Alessandra deixou a própria aldeia e se mudou para Santarém, para compreender os mecanismos necessários e fortalecer a sua luta. Através de um bingo, conseguiu alugar uma pequena casa para ela, o marido e os filhos. Mas, uma vez na cidade, desafios distintos surgiram – fizeram sua pequena criação de galinhas, mas água e peixe precisariam ser comprados, uma realidade muito diferente das aldeias, onde se busca água no rio de lá mesmo se pesca. O rio é fonte vital da vida munduruku e onde estão mais de 130 aldeias (como falamos aqui no blog ao contar a história da jovem munduruku Beka).
Como é de se imaginar, ela nos conta que foi preciso muita resistência e insistência para ser ouvida e conquistar o respeito dos caciques e outros homens das aldeias. Alessandra luta para que seu povo não seja relegado à miséria nas periferias das cidades, como tem visto acontecer, quando as tribos são removidas de suas terras por questões econômicas. Aos 35 anos e muitos deles na resistência, ela viu que para defender seu território, deveria entender as regras do país em que vive.
Além de ser a primeira mulher na presidência da Associação Pariri, que representa o povo munduruku no médio Tapajós, Alessandra é líder das Mulheres Guerreiras que, além de cuidarem da casa e dos filhos, ainda atuam no enfrentamento pela defesa de seu território. Alessandra já atuou em Brasília para derrubar projetos que propiciaram uma exploração desenfreada e discursou para projetos que propiciariam uma exploração desenfreada e discursou para mais de 270 mil pessoas na Marcha Pelo Clima 2019 em Berlim, na Alemanha. Além do arco e flecha, também usa o papel e a caneta como suas armas.
Alessandra é definitivamente uma Mulher Guerreira, que sustenta seus filhos, protege a aldeia e ainda se reinventa para poder lutar mais, mantendo vivo o legado da justiceira Wakoburun.
Para conhecer mais sobre Alessandra Munduruku, recomendo sua entrevista para o projeto Um Brasil. Assista.