Quinta, 21 de Novembro de 2024

Opinião

Quarta Gloriosa: Pedagogia da terra

Por Glória Pires, Atriz e Empreendedora

Foto: Reprodução
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01 junho, 2021 às 20:29

Salve, Glorioses. Amanhã celebramos o Dia Nacional da Educação Ambiental e estamos em meio à Semana do Meio Ambiente, que neste ano traz o tema “Restaurar para Viver”. E sobre o quê tratam essas datas? Educação! Mas não qualquer uma, e, sim, a educação da terra.

Quem fala muito sobre o tema é Moacir Gadotti, educador e filósofo, presidente de honra do Instituto Paulo Freire, e autor de Pedagogia da Terra, um livro dentre muitos outros artigos que falam sobre uma educação que reconstrói a forma como nos relacionamos com a mãe natureza.

Moacir nasceu em uma pequena cidade no interior de Santa Catarina e passou toda a sua juventude entre os livros e a sala de aula, desde o ensino básico até formar-se pedagogo em 1967 e doutor em Educação dez anos depois, na Suíça. Amigo e estudioso de Paulo Freire, Patrono da Educação Brasileira, aprendeu com ele que o ensino pode ser uma grande ferramenta de transformação social.

E, por que não, ambiental?

A Pedagogia da Terra, proposta por Moacir e os pensadores que ele traz na bagagem, das mais diversas áreas, coloca o meio ambiente no centro das urgências sociais do nosso tempo. A pobreza e degradação ambiental são faces da mesma moeda, resultado do que ele chama de desenvolvimento insustentável.

Mas o que é desenvolvimento mesmo? Desde o avanço da indústria e das tecnologias que trouxeram tantas benesses para a nossa sociedade, pouco a pouco migramos para um sistema de acúmulo, produzindo mais do que realmente precisamos e buscando o lucro em uma lógica onde ser é ter, escancarando a desigualdade. Com um só movimento, destruímos os recursos naturais e criamos um sistema que não beneficia a todos.

Em um de seus artigos, Moacir até nos atenta para a forma como nos dividimos entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos, onde os desenvolvidos são aqueles que mais produzem e acumulam. Mas a que custo alimentamos essa máquina?

“A Terra é um organismo vivo que, como todos os nós, precisa de cuidados”, ele diz, mas parece que, em meio a tantas engrenagens, esquecemos que somos feitos de terra. O ensinamento é claro:

“Ao fazer mal à Terra, estamos fazendo mal a nós mesmos. Se limpamos o ar, limpamos nossos pulmões. Se limpamos a água, limpamos nosso corpo (…) Nossa alimentação vem dela e, ao poluir a Terra, nós nos poluímos, porque somos parte dela.”

E por mais que este pensamento pareça algo da modernidade, é uma sabedoria ancestral. Em que momento nos perdemos dela? Quando crianças, Gadotti lembra, brincávamos na terra; mas hoje, adultos, olhamos para ela como suja e retiramos nossas crianças. O que isso nos diz sobre como estamos caminhando?

A verdade é que nos afastamos da natureza e precisamos de uma Pedagogia da Terra para reeducar toda a humanidade.

Pedagogia vem do grego paidós (criança) e agodé (condução), e, portanto, é através dela que conduzimos nossas crianças, ensinamos valores e formamos sujeitos conscientes. Nesse processo, a Pedagogia da Terra traz de volta uma preocupação que é até maior do que apenas a preservação do meio ambiente, mas um processo profundo de como nos enxergamos, enquanto pessoas, como parte da Terra.

É uma pedagogia que traz em seu coração a cultura da sustentabilidade, do coletivo, da saúde ambiental assim como social, mental e emocional. Estamos todos conectados. Como Gadotti diz:

“O respeito pelo meio ambiente não se realiza sem respeito entre seres humanos.”

Com isso, deixa claro que não vale o desenvolvimento que destrói as terras indígenas, que cresce em cima dos mais vulneráveis ou que aumenta as desigualdades ao mesmo tempo que derruba as florestas. E todos esses ensinamentos começam com a Educação.

Claro que é um desafio enorme, um sonho utópico e esta pedagogia ainda é um conceito em desenvolvimento, mas Gadotti não teme em dizer:

“Acredito que as divisões e as fronteiras que foram impostas pela História, um dia, terão fim, porque somos um povo único e somos cidadãos desta pátria Terra. Na verdade, seria mais correto chamá-la de ‘mátria’, porque a terra é mãe de todos nós.”

Vale compartilhar que Moacir Gadotti foi um dos autores da Carta da Terra, uma declaração universal para a construção de uma sociedade global sustentável, democrática e de paz. Já falamos dela aqui!

Um beijo e até a próxima Quarta Gloriosa.